quinta-feira, outubro 05, 2006

o caso interminado



Eu estava de luto, até sentia-me mal por estar sentindo-me tão bem, no fundo aquilo tudo era um alívio. Havia passado o dia inteiro naquele já conhecido clima esquisito, com todos aqueles familiares que não eram nada familiar. Comendo bolinhos, tomando café, dando risada, parecia uma festa. Não tinha vontade de conversar, e era falação o tempo todo!!!! Tentei me camuflar em um canto, sentei em um banquinho aconchegante encostada em uma árvore, ouvindo meu cd preferido do Pink Floyd, ficando alheia àquela situação. Passei a tarde toda observando as pessoas que iam e vinham, gesticulando, falando, chorando, cumprimentando com a maior cerimônia, e ao virar de costas mudando completamente a expressão, mostrando quão hipócritas são, mas isso não era novidade alguma. Ficava imaginando como era a vida daquelas pessoas, de onde elas vinham, para onde iam, amavam realmente a avó Magali ou estavam ali por simples interesse em sair um pouquinho da rotina?!. E como é grande o número de pessoas que topa qualquer coisa para sair da rotina, até mesmo velório de ente querido. Isso é coisa que nunca entendi, porque afinal cada um escolhe a vida que quer, aonde quando e com quem quer estar, e as pessoas têm a mania de criar essa força maior que as obriga a fazer aquilo que não gostam, fazendo tudo com má vontade, sempre reclamando da vida.
QUE MERDA DE VIDA!
Ah.. mas não para mim. Para mim a vida foi sempre mto colorida, é sempre bom um pouco de otimismo... e disso eu tenho de sobra, afinal a vida é pra ser vivida, e se é para viver, que o façamos de maneira feliz.
Já passava das onze da noite quando acordei em um pulo da cochilada que dera. A “festa” ainda estava cheia, embora agora deprimente. Resolvi que era hora de ir. Juntei as tralhas, dei um beijo em minha mãe que também cochilava, acendi um cigarro em uma das velas que iluminavam o salão e saí na noite fria. A lua estava enorme, alaranjada e brilhante, até me fez lembrar que era hora de cortar o cabelo, coisa que aprendi nas aulas de Astronomia, que me fizeram aprender a respeitar a lua na hora de certos afazeres. Parei no primeiro orelhão e pensei em ligar para alguém, mas não sabia direito o que estava afim de fazer. É sempre assim na hora de ligar pros amigos, cada um tem uma pegada diferente, aí você pára, avalia, vê em que clima vc está, e bora ligar. Eu não estava afim de fazer nada, mas nada eu também não estava afim de fazer, então liguei pro primeiro número que me veio a cabeça, que é o que sei decorado a mais tempo. Quando atenderam por um segundo até esqueci pra quem havia ligado, mas em seguida lembrei
- Tebaaa, oi!
Eu sempre adorei falar ao telefone com ela, a voz é muito boa e a risada uma delícia.
- Marlaaa, vâm pro Laus!!! Tá todo mundo indo pra lá, e eu tava só esperando cê me ligá!
A gente adora o Laus! É pau pra toda obra, boteco pra toda noite. Diversão garantida.
- Combinado.. fica paradinha aí que to passando pra te pegar! UEBA!
Sentei no meio-fio pra amarrar os cadarços do meu tênis, sempre quando o faço fico me achando bem mais arrumada e apresentável, independente da trança toda desarrumada nos cabelos. Acendi outro cigarro e esperei.

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